HISTÓRICO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO PARANÁ
MUNICÍPIO ADRIANÓPOLIS
COMUNIDADES
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA JOÃO SURÁ
A comunidade está localizada a 50 quilômetros da sede do município de Adrianópolis região do Alto Vale do Rio Ribeira do Iguape, na fronteira entre Paraná e São Paulo, nas áreas compreendidas pela confluência do rio Ribeira com o rio Pardo e os limites do Parque Estadual das Lauráceas. Segundo relatos dos quilombolas a comunidade recebeu o nome de João Surá em razão da existência de um garimpeiro – francês - que buscava ouro na região para vender em Iporanga, São Paulo. Esse garimpeiro morreu na cachoeira de um rio que deságua no rio Pardo. Rio e cachoeira receberam também o seu nome, João Surá. Os negros que há mais de 200 anos estão nesse local são descendentes de escravizados que fugiram da mina de ouro que existia em Apiaí, São Paulo e chegando ao território em busca de liberdade, estabeleceram vínculos de amizade com os índios que moravam na região, toda de mata fechada. As famílias que por muito tempo resistiram às invasões de pescadores, mineradores e de madeireiros foram também pressionadas por fazendeiros para que vendessem suas terras por valores irrisórios quando várias famílias não negras chegaram à região para a exploração de recursos naturais encontrados. A agricultura, o extrativismo, a pesca e a criação de animais são as atividades de subsistência. Aspectos culturais como mecanismos de integração comunitária em torno de diferentes atividades produtivas refletem a identidade coletiva dos quilombolas de João Surá na divisão do trabalho com a prática de mutirões, na troca de dias de serviços, nos momentos culturais entre eles, os bailes e nas festas religiosas envolvendo não só a comunidade mas as comunidades vizinhas do Vale do Ribeira. As famílias de João Surá compartilham a casa de farinha que agrega enquanto aspecto cultural e pode ser considerada como um símbolo de subsistência coletiva. As festas de Santo Antônio, do Divino, a Recomendação das Almas na Quaresma e a dança de São Gonçalo que em determinado momento mescla catolicismo e raiz africana na celebração, são referências culturais religiosas importantes para a comunidade. Nessas festas os moradores pagam promessas pelas graças alcançadas em boa colheita e boa saúde para as pessoas e para a criação. Outra referência em destaque na comunidade é o artesanato em argila, em madeira e objetos em taboa.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA PRAIA DO PEIXE
Distante a 50 quilômetros da sede do município, a comunidade tem como referências geográficas o córrego do Vira Mundo, córrego Gavião, Ribeirãozinho, Serra da Boa Vista e Serra João Surá. Os quilombolas estão na localidade aproximadamente há seis gerações. Maria Pires, nascida em 1923 conta a história dos primeiros quilombolas da Praia do Peixe. Segundo relato a fundação da comunidade está na chegada, aproximadamente em 1806, de duas pessoas fugidas de Iguape, São Paulo. Essas pessoas eram o bisavô de Maria Pires, Francisco Pires com o irmão Juca Pires. Francisco fugiu pelo rio Ribeira, abriu picadas na mata com um machado, fez uma oca com folhas, sobreviveu da pesca, raízes e frutas. Com o passar dos tempos casou com uma índia e desse casamento nasceram os integrantes da comunidade, entre eles Estevão, o avô de Maria Pires cujos descendentes vivem na mesma área. Os primeiros moradores trabalhavam na roça no cultivo de cana-de-açúcar, mandioca e banana e por serem negros passaram por várias dificuldades, entre elas a invasão de suas terras por madeireiros e por fazendeiros. Atualmente praticam a agricultura de subsistência em roça familiar, assim como o extrativismo, a criação de animais e a pesca. O uso da medicina popular e a presença da casa de farinha são marcos culturais da comunidade. Grande parte dos moradores vai a pé, de bicicleta ou a cavalo até a cidade mais próxima. De acordo com os relatos da comunidade, a prática religiosa é na maioria a católica. Festas tradicionais na comunidade: Festa do Espírito Santo, festa de Nossa Senhora Aparecida e a Mesa dos Anjos. O padroeiro é São José e os outros santos venerados são Nossa Senhora Aparecida, Jesus da Misericórdia, e Santo Antonio.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA PORTO VELHO
Comunidade localizada no município de Adrianópolis distante 35 quilômetros da sede municipal. João Murato de Almeida, pessoa mais idosa da Comunidade conta que nasceu em 1925 na terra onde seus ancestrais já estavam desde os anos de 1750. A história dos tataravós e bisavós escravizados e de seus sofrimentos em busca da liberdade tem sido transmitida para a comunidade através da tradição oral assim como a continuação da história da luta pela permanência na terra. Moradores relatam que não existia outro meio de transporte além da canoa. Pagavam impostos para transporte de mercadoria e para viajar. A mercadoria de fora vinha de Apiaí e desembarcava no porto próximo à igreja (Rio Ribeira). Está viva na memória da comunidade a repressão efetuada em nome ou por funcionários do INCRA, ou órgão que o antecedeu, em 1940.
“O “INCRA”, quando veio em 1940 para medir a terra, quis tirar os negros do local para colocar outras pessoas no lugar e dizia ainda que os solteiros não podiam ter terras, mas somente os casados. A terra inicia na Volta Grande, (corte na subida da estrada) vai até perto da primeira casa antes da igreja, até o rio Ribeira e toda Serra, até o rio Bracinha”, relata João Murato que conta também que “tinha uma plantação de cana-de-açúcar no seu terreno na época que o “INCRA” passou a terra para outra pessoa” e que este exigiu que a cana fosse retirada; “perdi, além do terreno, toda a plantação da cana”. Conta também que para obter o título da terra, tinha que, além da pagar o “INCRA”, roçar toda a estrada, caso contrário o terreno que restava seria tomado. Atualmente a agricultura, a criação de animais e a pesca são familiares. A casa de farinha na comunidade é um espaço de socialização, resistência e de subsistência. Os meios de locomoção para grande parte dos moradores ainda são a pé ou a cavalo. As festas de Bom Jesus, Nossa Senhora Aparecida e a Semana do Divino são expressões culturais que marcam as tradições da comunidade.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA SETE BARRAS
Comunidade localizada a 35 quilômetros da sede do município. Os descendentes dos negros escravizados chegaram à região e ali se estabeleceram desde os meados do século XIX. Os contatos dos habitantes dessa comunidade com as comunidades negras vizinhas, João Surá, Córrego das Moças e Porto Velho remontam dessa época. A família de Escolástica Mota de Lima, a mais antiga da comunidade, permanece nas terras conquistadas por seus ancestrais onde há presença de sítios arqueológicos. Os moradores sabem que a terra deles era bastante grande, maior do que é hoje. Atualmente, agricultura, criação de animais e a pesca são atividades familiares. Pescam com anzol em rio com pouco peixe, buscam água da fonte e a locomoção até a cidade mais próxima é feita a pé. As coberturas das casas são de telha ou de palha. A casa de farinha é meio de subsistência e espaço cultural onde o fogo, o ritmo e as vozes elaboram uma comunhão do ser humano com suas necessidades e sua espiritualidade. Segundo relato dos moradores, como além dos católicos os evangélicos predominam na comunidade, não se fazem mais as festas tradicionais, não há padroeiro, nem danças.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA CÓRREGO DAS MOÇAS
Localizada a 37 quilômetros da sede do município a comunidade está no local há aproximadamente mais de duzentos anos. Nicolau Dias de Matos nascido em 1928 é filho de Theodora que nasceu na região em 1909 e neto de Olívia que nasceu aproximadamente em 1860. Nicolau que é a pessoa mais idosa, nasceu e se criou na localidade, relata que seus avós que ali já moravam contavam que quando os negros chegaram à região, não havia fazendeiros por ali, somente os negros. As famílias da comunidade dizem que atualmente a terra é tão pouca que não é mais possível plantar como antigamente faziam e que ainda recebem ameaças pela permanência na terra. A agricultura atual é familiar assim como a criação de animais. Preservam a cultura da casa de farinha como subsistência e tradição. Até a cidade mais próxima a locomoção mais utilizada é a cavalo e a pé. As referências geográficas são os córregos Barreirinho, do Belarmino, Comprido, das Moças, do Lagarto e a Serra do Lagarto. Há presença de sítios arqueológicos na comunidade. As casas são cobertas de telha, palha sapé e as paredes são de pau a pique, adobe. A pesca é individual, em rio e com anzol. Ainda há peixes. As práticas religiosas da comunidade são de expressões católicas e evangélicas, mas também de benzedores, de curandeiros e de rezadores. A produção artística está na produção de pilões, colheres de pau, etc. Dentre as festas tradicionais estão as do Divino, de São Pedro e de do São José. Os padroeiros são Santa Ana e São Sebastião. A dança tradicional é a dança de São Gonçalo. A comunidade identifica o cemitério do Bugre como espaço de referência cultural. A Comunidade tem um segundo núcleo chamado de Córrego Malaquias, no mesmo quilombo.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA SÃO JOÃO
A Comunidade está na região desde o ano 1760 habitando na época área que atualmente faz parte do Parque das Lauráceas, distante 115 quilômetros da sede do município. Segundo relatos de moradores a comunidade que recebe o nome de São João em homenagem ao santo católico, mas por ser formada às margens do rio São João, que deságua no rio Pardo. “Os primeiros que chegaram para formar a comunidade foram João Muratinho e Tomázia Fernanda de Matos vindos da cidade de El Dourado Paulista que à época, se chamava Xiririca. João Muratinho e Tomázia eram da mesma família que deu origem ao quilombo João Surá”, relata o quilombola Esmeraldo Antonio da Costa, filho de Gonçalo Antunes. Plantavam e criavam animais para consumo na comunidade e também comercializavam. O comércio de suínos era feito duas vezes ao ano, no mês de junho e nas proximidades do natal quando matavam todos os animais que tivessem no ponto de abate, salgavam e por meio canoas de canela imbuia, feitas por eles, levavam a carga para vender em Xiririca (El Dourado Paulista). Lá vendiam não só os suínos, mas também as canoas, voltando a pé, em viagem que durava quatro dias. “O rio Pardo era como se fosse uma estrada de rodagem e remeiro (remador) era profissão”, diz Esmeraldo. Moradores relatam que atualmente a agricultura é familiar; o extrativismo e a pesca, no rio e com anzol também, porém, atualmente, a pesca é fraca. Na comunidade existe a casa de farinha enquanto resistência, subsistência e tradição. As casas são cobertas de sapé, as paredes são de pau a pique e a água é de mina. O transporte até a cidade mais próxima continua sendo de barco, a cavalo ou fazem o percurso a pé. Na comunidade existe lideranças evangélicas e os moradores não fazem mais festas, não dançam e não identificam o padroeiro. Na lembrança de Esmeraldo ainda está presente a fala do pai sobre a importância da tradição da reza chamada Cruz das Almas, que era realizada no primeiro domingo de cada mês: “Tinha também a festa da Mesa dos Anjos e a Romaria de São Gonçalo, mas hoje nada disso se faz mais”, conclui.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA CORREGO DO FRANCO
Localizada a 124 quilômetros da sede do município, a comunidade está na terra há cinco gerações. São aproximadamente 250 anos. Morador da comunidade, Ricardo Morato que foi registrado em 1911 diz que seus os seus ancestrais, tataravôs, bisavós, avós e pais já nasceram e se criaram no Córrego do Franco e que os mais antigos chegaram do porto de Iguape e alí se estabeleceram. Ricardo relata que sua “gente” (família extensiva) era dona de toda a terra da região e que ali não existiam pessoas brancas, “só negras”. O transporte era feito por canoas pelo rio Pardo até Ribeira de Iguape. Na lembrança coletiva da comunidade os negros eram pessoas “roubadas” da África, trazidas para o Brasil contra a vontade e que ficavam trabalhando escravizadas, por isso fugiam da escravidão procurando terra para viver em liberdade. Sobre a convivência com os indígenas, Miguel Morato relata: “Os antigos chegaram e aqui era tudo mato e viveram com os índios desta região. Eu cresci encontrando panelas de barro e mão de pilão de pedra deles”. Faz parte também da memória coletiva os fatos que os mais antigos contavam, dentre os fatos, o acampamento do General Lamarca durante a Revolução de 30 quando Barra do Turvo passou a fazer parte de São Paulo. Após a fuga do General Lamarca, as tropas do Exército acamparam no local. Também da década de trinta lembram de mortes de famílias inteiras vítimas de malária e tifo. “Os únicos remédios eram ervas do mato”, relatam ainda que ainda hoje muitas pessoas morrem por falta de socorro. “É preciso passar por Barra do Turvo, Iporanga, Apiaí e Ribeira, todos esses, municípios paulistas, pela ausência de estradas no lado do Paraná”. Também faz parte das lembranças dos mais velhos, o cemitério antigo, desativado, que atualmente está no município de Barrra do Turvo, São Paulo, onde foram enterrados os primeiros quilombolas das comunidades do Córrego do Franco, de São João, de Estreitinho e de Três Canais. Reclamam que atualmente parte do cemitério está sob a capela católica e sob barracão da mesma. A outra parte está no pátio da igreja, onde é o jardim. “Parte da história do nosso povo só poderá ser resgatada quando a sociedade respeitar os nossos ancestrais. Espero, tenho fé, que hoje, após tantos anos de isolamento e após o reconhecimento das comunidades pela Fundação Palmares, aconteçam realmente as políticas públicas das quais estivemos privados durante séculos” diz Nilton Morato, liderança jovem, neto de Ricardo Morato e morador na comunidade, apesar de trabalhar na prefeitura de Barra do Turvo, para onde se dirige todos os dias. Agricultura, criação de animais, extrativismo e pesca em rio com anzol são divididas por família. A casa de farinha é presença histórica do quilombo. Quanto às expressões culturais, moradores dizem que o povo era muito alegre, fazia romarias, bailes, dança de São Gonçalo, mesa dos anjos e tinha grupo de capoeira. “Hoje, todo mundo é evangélico”, informa Miguel Morato.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA ESTREITINHO
Está situada no Vale do Ribeira localizado a 165 quilômetros da sede do município de Adrianópolis. Segundo os moradores a comunidade recebe o nome de Estreitinho em referência a uma baixada em que o rio Pardo fica mais estreito. A referência geográfica é o rio Pardo e a cidade mais próxima é a Barra do Turvo, São Paulo. A Comunidade é formada por egressos de outras comunidades negras tradicionais, a maioria “do Ribeira”, tanto do que é hoje o Paraná quanto de São Paulo que durante o período da escravidão procuraram terras para viver em liberdade e para plantar. A atualmente a comunidade trabalha em roças familiares e comunitárias em regime de mutirão na plantação de arroz, feijão, milho e mandioca. A casa de farinha é espaço de resistência. A terra é preparada manualmente e a produção é para consumo na comunidade sendo que o que sobra é vendido para comerciantes da cidade mais próxima. O transporte da produção agrícola é feito por de barco. A pesca da comunidade é individual, em rio, com anzol, porém moradores descontentes reclamam: “Pessoas que vêm das cidades grandes, principalmente Curitiba, vêm pescar com rede, tarrafa e soltam bomba na água, pescam para comercializar, ficam às vezes até um mês”. A predominância da religiosidade é cristã: católicos e evangélicos. Na comunidade há rezadores, o santo venerado é São João e a dança que executam é a quadrilha. A locomoção até a cidade mais próxima é feita a pé ou a cavalo.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA TRÊS CANAIS
O nome da comunidade é uma referência ao local onde três águas que se encontram e se juntam ao rio Pardo. Comunidade localizada a 136 quilômetros da sede do município de Adrianópolis. São referências geográficas a Serra Três Canais e o Rio Pardo. Os moradores relatam que os primeiros negros vieram de Cananéia, em São Paulo e de outras regiões do que é hoje o Estado do Paraná e que se juntaram aos quilombolas da região de onde hoje está o Parque Estadual das Lauráceas, em busca de terras para plantar e viver coletivamente no fim do século XIX e início do século XX. Os descendentes desses primeiros habitantes continuam mantendo contato com os outros quilombos da região. Há presença de sítios arqueológicos na região. A agricultura é praticada em roças com o trabalho coletivo de mutirão em troca de mão de obra e de conhecimentos, marco cultural da identidade da comunidade como existência da casa de farinha. Segundo relatos dos moradores não há rezadores, benzedeiros nem curandeiros na comunidade, onde convivem católicos e evangélicos. O artesanato utilitário é produzido para a utilização em atividades de subsistência.
CNT COMUNIDADE NEGRA TRADICIONAIS DO BAIRRO DOS ROQUE
Comunidade localizada a 45 quilômetros da sede do município de Adranópolis. Os negros há 150 anos estão sobre a terra que posteriormente foi comprada e registrada em cartório, num o total de 32 alqueires e mesmo estando no local comprovadamente há tanto tempo os moradores para não as perder tiveram que comprar suas próprias terras para poder registrá-las em cartório. Paulo Andrade Filho conta que os negros que ali se estabeleceram eram escravizados na mina de Apiaí, São Paulo. Conta também que existe uma folha de partilha das terras datada de 1822 e que o documento está no cartório de imóveis na cidade de El Dourado, em São Paulo. Joana Pedroso, 70 anos, moradora do bairro diz que as festas mais importantes na comunidade eram a Festa de São Gonçalo, quando toda a comunidade se reunia para fazer cantoria, acompanhada pela Bandeira do Divino e na quaresma a Recomenda às Almas, uma romaria pelas almas nas casas, nas cruzes dos caminhos, no cemitério e na igreja. Dona Joana conta também histórias do seu "velho", Euclides da Rosa Pedroso que fazia calçado de palha de milho e de couro de animal: “Ele andava sempre perto do pai, aprendendo o serviço que o pai fazia. Precisava caminhar pelo capinzal onde havia muitos espinhos agulhados, que machucavam, principalmente quando estavam brotando. Então ele fazia uma proteção para o pé utilizando palha de milho amarrada para não cair. Assim ele podia atravessar o capinzal e ir até o local onde o pai dele estava fazendo canoa”.
CNT COMUNIDADE NEGRAS TRADICIONAIS DE TATUPEVA
A comunidade está situada no município de Adrianópolis, Vale do Ribeira e distante 48 quilômetros da sede municipal. Seus habitantes são descendentes dos ancestrais de Antonio Mariano dos Santos e eram negros egressos de outras comunidades tradicionais principalmente do Estado das Minas Gerais que fugiram para Presidente Bernardes, hoje Sorocaba, no Estado de São Paulo e que mais tarde, finalmente chegaram ao território atual, em busca de liberdade e de terra para plantar. Na atualidade plantam alimentos para consumo e venda, criam animais e a pesca é individual, em rio, com anzol. Antonio Mariano diz que seu avô José Manoel da Silva, que viveu nos tempos finais da escravidão, contava como os mais velhos foram escravizados e porque fugiam das fazendas: “Não tinham direito em nada do que trabalhavam, e além de não receber nada ainda apanhavam e se fugissem, apanhavam mais ainda, e além de apanhar passavam três dias sem comer”. Antonio Mariano diz que quando chegaram em Adrianópolis era tudo sertão e a cidade tinha o nome de Paranaí. Vieram direto para a localidade de Tatupeva. Hoje a comunidade é formada por seus filhos, genros, noras e netos, além dele, que comprou a terra. João Mariano e seu irmão, que trabalharam na construção da estrada de ferro do Norte do Paraná, abrindo as picadas, atualmente formam a dupla sertaneja “Tio Mineiro e Mineirinho”. Na comunidade a festa “oficial” é a dança de São Gonçalo. São Pedro é o padroeiro da comunidade que, segundo relatos, é de maioria católica e outros santos também são venerados: Nossa Senhora Aparecida, São Gonçalo e São Benedito.
MUNICÍPIO DOUTOR ULYSSES
COMUNIDADES
Comarca de Cerro Azul
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DO VARZEÃO
O território era inicialmente conhecido como Varzeão, mais tarde passou a ser chamado de Vila Branca e finalmente, se tornou o município de Dr. Ulysses. A comunidade está localizada a 70 quilômetros da sede do município, e permaneceu com o nome de Varzeão. Nela vivem os descendentes de Feliciano Pereira Guimarães e Carolina Maria de Souza. (este Feliciano Guimarães de Castro como nominado por membros da comunidade é citado como Feliciano Pereira Guimarães na Certidão de Inteiro Teor do Serviço Registral da Comarca de Cerro Azul, Paraná, lavrada em 1958).
“Seu” Donato Batista Monteiro, atualmente com 68 anos, conta que a comunidade surgiu há cerca de 200 anos quando Feliciano Pereira Guimarães, negro escravizado pelo tropeiro João Alves de Souza, o qual havia recebido estas terras por serviços prestados Império em 1870, casou-se com a filha de seu senhor, Carolina Maria de Souza. Esta, como filha única de João Alves, herdou todas as terras do pai. As famílias da comunidade descendem dessa união. Até a década de 80, segundo Juventino Rodrigues de Castro, atual presidente da Associação Quilombola, os moradores do Quilombo do Varzeão tinham monjolo e casa de farinha: “A farinha que produziam durante o dia era destinada ao sustento da comunidade e durante a noite, sua avó Helena, esposa do “velho Raimundo”, trabalhava fazendo mais farinha e o dinheiro da venda dessa farinha era usado nas viagens do “velho Raimundo” na tentativa de regularizar as terras da comunidade. Sobre esta questão “Seu” Donato relata um fato bastante marcante na comunidade que foi a invasão e queima das casas, fato ocorrido quando por volta de 1959, quando jagunços que se apresentaram como fiscais da Fazenda e da firma Moyses Lupion (fazenda Murungava ?), com carros de polícia e oficial de justiça, além dos jagunços, chegaram e foram entrando nas casas, amarrando as pessoas, espancando e prendendo. Passada a época da política, algumas pessoas conseguiram, por intermédio de um advogado, permanecer na propriedade. Paulatinamente aqueles que foram obrigados a fugir têm voltado à Comunidade.
Outro morador da comunidade, Luiz Rodrigues de Castro, - o “Seu Luizinho” - com 93 anos, sogro de “seu” Donato, ao confirmar o evento acrescenta que hoje reclama do plantio de pinus em terra que lhes foi tomada e – pior – cercando o cemitério onde seus ancestrais, negros, estão sepultados. Para ele, isso é um desrespeito à história e à condição humana. A comunidade sobrevive da criação de animais e do cultivo de feijão, milho, mandioca, arroz e abóbora para consumo familiar. A pesca que é pouca é individual em rio, com anzol. Segundo relatam não se fazem mais as festas para o Divino nem as festas de São Gonçalo pois a comunidadeé,atualmente, evangélica.
CNT COMUNIDADE NEGRAS TRADICIONAIS DE QUEIMADINHOS
Os negros chegaram ao local onde seus descendentes vivem, no século XIX. Era sertão, mata serrada quando Joaquim Pereira de Souza e Tereza sua esposa tomaram posse da terra onde os descendentes estão a mais de 150 anos. Virgílio, líder das famílias e a pessoa mais idosa da Comunidade, diz que existiam documentos da terra, mas a casa de seus avós foi queimada e os documentos se perderam. Não sabe contar sobre o incêndio. A história da comunidade era contada por sua avó e por sua mãe.
MUNICÍPIO BOCAIUVA DO SUL
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DE AREIA BRANCA
Desmembrado do município de Colombo há muitos anos, Bocaiúva do Sul faz parte da Região Metropolitana de Curitiba. A comunidade está distante 115 quilômetros da sede do município. Na lembrança coletiva da comunidade seus integrantes são descendentes de Francisco Miguel da Rosa, negro que foi pego fugitivo na mata. Sendo escravizado por um criador de porcos colocou em prática, a seu serviço, os conhecimentos e habilidades que havia herdado dos seus ancestrais: a construção de canoas e de monjolos. Após alguns anos Francisco recebeu um pedaço de terra hoje chamada de Areia Branca. Casou e formou família, da qual descendem os moradores da comunidade. Atualmente a roça é comunitária na qual trabalham homens e mulheres no cultivo de mandioca, milho, abóbora, arroz, batata-doce e banana. A comunidade guarda a cultura da medicina popular e da casa de farinha que é um espaço de produção e cultural. A Igreja e a Figueira são os espaços culturais de referência da comunidade. A figueira é uma árvore muito antiga, enorme e frondosa, onde a comunidade se junta nos dias de folga, após a missa e ao entardecer. As mais polêmicas decisões são tomadas à sombra da árvore. A festa tradicional é a festa de São Sebastião que é o padroeiro da comunidade que venera também Nossa Senhora Aparecida.
CAMPO LARGO
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA PALMITAL DOS PRETOS
O município integra a Região Metropolitana de Curitiba. A comunidade está situada a 83 quilômetros da sede do município, na fronteira deste com o município de Ponta Grossa. Hortêncio Ferreira Pinto, um dos mais idosos moradores, relata que a comunidade é formada por famílias negras que vieram de várias regiões do Estado na busca de liberdade e de terras para se estabelecerem. Brasílio e Librano José de Deus são originários da Comunidade Remanescente de Quilombo do Sutil, em Ponta Grossa; a família Ferreira Pinto, veio da Fazenda Santa Cruz, hoje Comunidade Remanescente Santa Cruz e que integraria o Sutil, também em Ponta Grossa; outras famílias migraram das comunidades de Pugas e Bolo Grande, no Município de Palmeiras. Benedita Gonçalves, outra das pessoas mais antigas da comunidade, diz que sua tataravô, negra, foi “apanhada no mato” – quem sabe se escravizada fugitiva, índia ou mestiça - e que a família está há mais ou menos 200 anos sobre a terra. Relata ainda que hoje os membros da comunidade são todos aparentados, de uma mesma família. Informa ainda que os proprietários ao redor, foram chegando depois, ocupando e formando as suas fazendas. O nome da comunidade traz referência a grande quantidade de palmito existente nas terras dos negros. Elenita Aparecida Machado e Lima relata que a comunidade é festeira e gosta de dançar: a rancheira, a valsa e o “dois em um”, uma dança com dois passos para trás e um para frente. Nas danças as mulheres usam saias rodadas com anáguas armadas. São Sebastião, Santo Antonio, São Braz, São João, São Pedro, São Gonçalo e Bom Jesus são os santos festejados. As festas de junho, em louvor aos santos do mês, são animadas com fogueiras e bingos.
CNT COMUNIDADE NEGRAS TRADICIONAIS SETE SALTOS
A comunidade, que está localizada a 83 quilômetros da sede do município de Campo Largo, na fronteira com Ponta Grossa, é formada principalmente por familiares dos habitantes de Palmital dos Pretos. Como naquela, chegaram da Comunidade do Sutil, no município de Ponta Grossa, de Santa Cruz, também em Ponta Grossa e de outras famílias que migraram das comunidades de Pugas e Bolo Grande, no Município de Palmeiras, todas em busca de liberdade. A comunidade Sete Saltos está separada da comunidade de Palmital dos Pretos por diferentes visões e a mais interessante é sobre o modo, a técnica, de criação dos porcos. Enquanto uma tem a criação solta, a outra cria os suínos no cercado, tornando este fato motivo de intermináveis debates sobre a melhor e mais higiênica delas.. A festa de Bom Jesus que acontece em seis de agosto de cada ano é uma das tradições mantidas pela comunidade. A abertura da festa é com rezas e alguns foguetes, sendo que após as rezas é feito levantamento do mastro e bandeira de Bom Jesus, com as suas cores vermelha, verde, azul e branco e imagem do santo na bandeira. Após o levantamento do mastro há queima de fogos de artifícios: o “foguetório” e a seguir é servida a comida comunitária. Com saudades, moradores contam que no passado, depois das rezas tinha baile com gaita, viola, pandeiro e batida de colher.
MICRO REGIÃO DA LAPA
Município: LAPA
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DA RESTINGA
Os ancestrais dos moradores da Restinga foram escravizados na Fazenda Santa Amélia de Hipólito Alves de Araújo. Mesmo antes da promulgação da Lei Áurea este fazendeiro libertou as pessoas escravizadas na sua propriedade dando a elas as terras nas quais já trabalhavam. A comunidade passou a viver e trabalhar livre nessas terras, desde o início do século XIX. Uma das mais antigas moradoras da Restinga, Ana Maria Martins Santana, descendente direta daqueles escravizados, nascida em 1928, herdou dos antepassados uma história de resistência e lutas. Famílias influentes tentaram em vão expulsar os Santana de sua propriedade[1]: “Quiseram tirar a gente à força, mas não conseguiram porque minha mãe, Setembrina Caetano de Lima, tinha os documentos”, diz. As famílias confeccionam rédeas e cabrestos artesanalmente. O padroeiro é São Sebastião e a santa venerada é Nossa Senhora Aparecida.
Em relação às danças, os moradores relatam que a tradição foi morrendo com os mais velhos. Augusta Martins é a benzedeira na comunidade. Na memória coletiva ainda está a festa do Divino que não fazem mais. O trabalho nas roças comunitárias é feito por homem e por mulher no plantio de feijão, milho e verduras em terra arrendada.
[1] Estas informações foram compiladas de PAULA, F. M. de C; Comunidades do Feixo e da Restinga: dos afro-descendentes da Lapa. Curitiba: Edição do Autor, 2007.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DO FEIXO
Juvenal Pedroso, filho de Vitalino Pedroso e de Vitória Barbosa e Silvia Ferreira relatam que seus antepassados: tataravós, bisavós e avós, nasceram e morreram nas terras do Feixo e eram escravizados pela família Braga. Dos Braga receberam um pedaço de terra mas mesmo depois da abolição, continuaram trabalhando para a referida família e ficaram morando no local, mas cada um sabia qual era o seu pedaço
O casal relata que anteriormente só moravam os negros na localidade e que hoje não é mais assim, pois com o passar do tempo, as terras foram ficando poucas, pois foram sendo ocupadas por imigrantes europeus: antes “não tinha branco por aqui, era só o negro”, diz Juvenal. “Os mais antigos contavam que a vida era pesada, porque aquele que não podia trabalhar ficava com fome, porque o dono achava que tava com preguiça. Não tinha horário de trabalho, se o dono queria, os negros amanhecia e anoitecia trabalhando e os que morria de tanto trabaiá, os dono trocava por outros que comprava e assim ia.”, conclui.
Outra história é a da Dona Ana Maria e de seu irmão Dórico: também eles continuam em terra que foi dos antepassados e hoje é da geração dela, do irmão: os filhos, os netos e os bisnetos, no lugar chamado “os Paiol”, núcleo do Feixo; esta comunidade, formada pelos descendentes da Dona Ana Maria e do Seu Dorico não tem documentos da terra, somente a posse.
Os papéis da terra da Dona Ana Maria e dos seus descendentes estão nas mãos de uma pessoa que efetuou uma permuta com ela: “trocou as terras dela lá de cima, com as terra dele aqui embaixo, só que ela não sabe nem qual era o tamanho da terra!”
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DA VILA ESPERANÇA
A comunidade é formada por descendentes de negros que foram escravizados em fazendas da região e que receberam terras na comunidade do Feixo. Segundo seus relatos a sua presença nesta Vila Esperança está fundamentada na negociação realizada com um fazendeiro lindeiro
às suas terras que lhes propôs as permutarem com outras que ele daria, com casas em alvenaria e com banheiros, construídas por ele, tudo totalmente legalizado, com documentos das terras. Após efetuarem a troca e deixarem as terras que possuíam ancestralmente no Feixo, viram que o fazendeiro nada cumpriu do que prometeu em relação a construção das casas nem forneceu os documentos da terra permutada, que depois se descobriu ser uma “invasão” quanto as terras ancestrais “permutadas” contam que ele declara as haver comprado mas não as pagou, também. As casas são cobertas por telha mas na maioria delas o piso é de terra batida. Os moradores cultivam plantas medicinais e o cultivo mais importante para alimentação da comunidade é de mandioca e de abóbora. Os quilombolas da comunidade cuja padroeira é Imaculada Conceição, contam com os cuidados da benzedeira Augusta Martins e da parteira Maria Silva Santos, Na atualidade há relato de casos de jovens sendo aliciadas por casas de prostituição estabelecidas no município de Araucária e de que na própria Vila Esperança uma estaria se estabelecendo.
MICRO REGIÃO DE PARANAGUÁ
Município QUARAQUEÇABA
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA RIO VERDE
Os integrantes desse quilombo são descendentes de negros escravizados no Município de Cananéia, Estado de São Paulo que na busca de liberdade migraram para Guaraqueçaba. Dividiram-se em dois grupos: um deles formou a comunidade Batuva e o outro se deslocou até a região em que se encontra a comunidade Rio Verde, relando seus descendentes que as terras foram por eles adquiridas em uma transação financeira. Hipólito Galdino Gonçalves de sessenta e dois anos e Antonio Gonçalves da Silva relatam que a terra é herança de bisavós que eram de ascendência africana. Genésio Viana relata que seus ancestrais, avançando pela mata, vieram de além de Cananéia, no Vale do Ribeira. Relata ainda que seu bisavô era africano e que seu avô faleceu em 1936. As referências geográficas da comunidade são os rios Guaraqueçaba, Verde, Bracinho, do Cedro e a Serra Grande. Nas roças familiares são cultivados feijão, arroz, mandioca e banana. O preparo da terra é manual, usam adubo orgânico e vendem farinha de mandioca e frutas para o mercado. Criam gado, galinha e pato, a pesca é pouca, individual, em rio, com anzol. Na comunidade há benzedores e curandeiros. Cestas, chapéus, tipiti, remo e canoa são os seus produtos artesanais. Santa Teresa de Ávila é a padroeira e tem sua festa no dia 15 de outubro. São Benedito, Santo Antonio, Santa Rita e São Expedito também são venerados. As principais danças são fandango, fandango da roça, forró e valsa. As festas tradicionais são: festa para a padroeira, carnaval, páscoa e a festa para o mutirão do arroz. Quanto ao uso da terra os quilombolas relatam que estão com dificuldades pelas restrições apresentadas pelos órgãos ambientais que têm provocado grande impacto nas comunidades, pois estão na região de uma APA. “Dizem que o papagaio da cara roxa está em extinção, mas o que está em extinção aqui é o ser humano”, declara Antonio Gonçalves da Silva, membro da comunidade e professor.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DE BATUVA
Grande parte do grupo veio de Cananéia, no Estado de São Paulo com os que integram a Comunidade de Rio Verde. Ilton Gonçalves da Silva relata que uma sua ancestral chegou de navio e contava que outros dois navios afundaram durante a viagem. Outras famílias vieram de Xiririca (El Dourado Paulista) no Vale do Ribeira, em São Paulo, para terras “compradas” por Américo Pontes formando este quilombo onde a principal atividade é a rural mas, como em todas as comunidades quilombolas, a vegetação é preservada. As roças são comunitárias e o trabalho é feito por homem e por mulher. O cultivo mais importante para a alimentação é de mandioca, feijão e arroz. Para venda a banana é muito importante e também a mandioca transformada em farinha que vendem nas ruas de Guaraqueçaba. Entre os terrenos das famílias Pontes e Barreto há presença de sambaquis. São referências geográficas do quilombo a Serra Grande e os rios Pasmado, Guaraqueçaba e Branco. As festas são para Santa Teresa em 15 de outubro e carnaval, sendo que Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, São João Bosco, São Benedito, Santo Antonio, Santa Rita e Santo Expedito são também venerados. A dança tradicional é o fandango.
MICRO REGIÃO DE PONTA GROSSA
Municípios: CASTRO
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DA SERRA DO APON
A comunidade está localizada a 55 quilômetros da sede do município de Castro. Os ancestrais dos que habitam a Serra do Apon, foram os escravizados da fazenda Capão Alto também no município de Castro e que foi palco da última revolta escrava do Paraná quando a fazenda foi vendida pelos padres Carmelitas que eram os seus proprietários mas que a haviam abandonado um século antes, os escravizados que ali permaneceram livres por todo àquele século de abandono, auto-organizados como agricultores e criadores de gado, trabalhando para o seu próprio sustento e como servos de Nossa Senhora, resistiram aos novos senhores de forma violenta obrigando a se obter reforços militares em Ponta Grossa e em Curitiba para sufoca-los. Ao se verem derrotados, os que puderam fugiram para o Socavão, divididos estrategicamente em dois grupos: os Acróbios foram para a Serra do Apon, em Faxinal de São João e na Porteira e os Mamãs foram para a região que hoje tem este nome, no Ribeirão e no Imbuial. A comunidade que continua mantendo contato com os demais quilombos do município e traz como referência geográfica a Serra do Apon e o rio Ribeirão. O abastecimento de água vem de um riacho e ainda há casas com paredes de adobe e piso de terra batida. O cultivo mais importante é o milho e o feijão para consumo. O padroeiro é São Cristóvão mas Nossa Senhora Aparecida, também é venerada.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DE MAMÃS
Segundo uma das histórias contadas, a comunidade localizada a 60 quilômetros da sede do município de Castro foi deixada por herança para dois irmãos. Na infância, eles eram chamados de “mamãos”, uma referência ao apetite dos nenês ao mamar. Da alcunha surgiu o nome da comunidade Mamãs que é formada pelas famílias que descendem daqueles dois irmãos. Há também a versão da revolta escrava da Fazenda Capão Alto e, na verdade, as duas não se anulam e podem se completar. A comunidade está dividida em vários núcleos, com distância entre eles de até perto de 70 quilômetros, sendo que parte dos núcleos está localizada no município de Cerro Azul/Pr . A comunidade sofre invasão de fazendeiros e de madeireiros que fazendo o reflorestamento de pinus estão procurando aumentar s extensão de suas terras restando assim um mínimo de suas terras originais.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DO LIMITÃO
A distância entre a sede do município e a comunidade é de 65 quilômetros. Membros da comunidade cujos ancestrais chegaram há mais de 100 anos contam: “Há tempos atrás nossos antepassados fugiram da fazenda Capão Alto e chegaram até essas terras. Aqui ficaram escondidos para não serem capturados e levados novamente para trabalhar como escravos nas fazendas”. Relatam também os moradores que algumas famílias são aparentadas com as famílias da Comunidade da Serra do Apon e que outras famílias vieram do Rio Grande do Sul. Cada família tem sua área de terra medida e documentada pelo INCRA. Sebastião da Silva conhece os limites reais de suas terras e afirma que parte da terra de seu pai, José Amazonas da Silva, foi tomada por uma pessoa conhecida como Baiano na década de 60 e vendida para a Reflorestadora do Banestado. Os quilombolas criam animais e cultivam a terra. O cultivo de maior produção é de feijão e milho. As plantas medicinais são cultivadas nos quintais e nas roças e o abastecimento de água vem da fonte ou do rio. O cavalo ainda é um dos meios de transporte mais usado pela comunidade. O artesanato é feito na base de taquara e palha de milho. O padroeiro da comunidade é São João Batista e os moradores contam que as festas do santo estão hoje apresentando um estilo diferente das festas que eram tradicionais da comunidade.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DO TRONCO
Comunidade situada a 10 quilômetros de distância da sede do município de Castro. Wilson de Oliveira conta que a comunidade está formada a mais de cem anos e que seu avô João Preto Alves alcançou o tempo da escravidão apesar de não saber contar se na época os antepassados foram libertos ou se fugiram do cativeiro mas relata que seus ancestrais foram escravizados na fazenda Cunhaporanga nesse município; na busca de liberdade e de terra para plantar, moraram na Varginha, próximo à Cunhaporanga; depois foram para a fazenda Cipó, no local denominado Fomento; de lá foram para o Ronca Porco, no Catanduva de Fora e finalmente para o Tronco. Existem na comunidade rezadora(e)s, benzedeiras e curandeiros. O cultivo de milho, feijão, mandioca, abóbora e de batata-doce não soluciona o problema do abastecimento da comunidade apesar de haver melhorado após uma horta comunitária ser implantada.. Produção artística/artesanato: bordado, tricô e cestos. Religiosidade e festas: São Benedito, Divino Espírito Santo e Nossa Senhora Aparecida.
PONTA GROSSA
Comarca de Ponta Grossa
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DO SUTIL
Pelos relatos locais, conta-se que o nome "Sutil" surgiu em homenagem ao tropeiro Benedito Subtil, de Sorocaba, que por muitos anos hospedava-se no local com os negros. Os descendentes de africanos que estão a 35 quilômetros da sede do município de Ponta Grossa contam que seus ancestrais estavam centenariamente nas terras. Terras que receberam, em herança, dos fazendeiros, depois do fim da escravidão. Contam que a terra compreendia o espaço desde o Rio Tibagi ao Caniu e do Caniu até Santa Rita, mas que foram perdendo-as, principalmente para os imigrantes russos e alemães, que vieram para os Campos Gerais em 1876. Benedito Gonçalves nascido em 1929 relata que sua bisavó foi escravizada e que no passado Sutil e Santa Cruz, hoje separadas por fazendas, era uma mesma comunidade, de território integrado. Vani Ferreira Batista, 58 anos, relata que a sua família já está ali há 6 gerações (seus tataravós, bisavós, avós, pais e seus filhos). Outro morador da comunidade conta que sua avó era nigeriana, mulher alta e magra como as negras do município de Tibagi. Ele diz que o dono da fazenda doou as terras para os negros após a libertação e que Gonçalves e Ferreira foram os que receberam essas terras. Dessa família, conta seu Antônio, Maria Simoa Ambrósia recebeu grande parte da terra que compreendia o espaço desde o Rio Tibagi ao Caniu e do Caniu até Santa Rita, pois ela era a matriarca da maior família e filha de Gonçalves. Antônio conta ainda que havia os invasores das terras dos negros e que ainda hoje tentam apossar-se dos espaços possíveis com espertezas e pressões pois são os patrões possíveis.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DE SANTA CRUZ
A comunidade é oriunda da “Fazenda Santa Cruz”. Os descendentes de africanos que foram escravizados nessa fazenda herdaram uma parte dela em 1858, formando uma comunidade que com o passar dos anos foi dividida em Santa Cruz e Sutil. Os libertos pelo Coronel Joaquim Gonçalves Guimarães, não tinham posse da documentação da referida herança e aos poucos foram perdendo suas terras para os imigrantes europeus. Ana Rosa Gonçalves Kapp, de 82 anos, moradora na comunidade relata que seu avô foi escravizado na fazenda Santa Cruz e que os negros escravizados na referida fazenda receberam as terras da comunidade que vão desde o Rio Tibagi até o Caniu e do Caniu até Santa Rita. Os membros da comunidade destacam a importância do primeiro professor na Comunidade Santa Cruz que era o senhor Amazonas Gonçalves dos Santos.
MICRO REGIÃO DE GUARAPUAVA
Municípios: CANDÓI
GUARAPUAVA
PALMAS
TURVO
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DESPRAIADO
Município desmembrado do município de Guarapuava. Os negros estão nessas terras há mais ou menos 200 anos. Pedro Alves de Araújo, 67 anos, filho de Luiz Caetano de Araújo e casado com Alzira Caetano de Araújo, morador da comunidade, relata que seu avô Luiz Caetano de Araújo, casado com dona Teresa, que morreu com noventa e nove anos, era escravizado na fazenda Sepultura. Após a libertação, os negros continuaram trabalhando na referida fazenda que ficava no distrito de Candói, município de Guarapuava. No ano de 1973, Pedro Alves de Araújo comprou de Valfrido Luiz Kraus de Lima, então propeietário, 30.268, trinta mil, duzentos e sessenta e oito metros quadrados, (menos que um alqueire) pagando CR$1.500,00, mil e quinhentos cruzeiros. Pedro Alves de Araújo conta que há 40 anos, havia um fazendeiro que iluminava a noite com o jipe, e os negros, com picaretas abriam picadas e estradas que precisassem ser abertas. Trabalhavam durante o dia, durante a noite e madrugada sob pena de ir para a cadeia se não aceitassem trabalhar da forma proposta pelo fazendeiro que tinha o apoio da polícia civil, local, conclui Pedro Alves de Araújo. Atualmente a maior parte dos quilombolas trabalha em terra arrendada para lavoura. A padroeira é Nª Sª do Perpétuo Socorro e são venerados São Sebastião e o Divino Espírito Santo.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA VILA TOMÉ
Distante 27 quilômetros da sede do município de Candói está centenariamente a comunidade de Vila Tomé. Relatam Sueli Tomé e sua filha Arlete, que os negros conhecidos como os Tomé, seus parentes, foram os primeiros a chegar ao lugar que aí recebeu o nome de Vila Tomé, pois só eles moravam ali. Sueli Tomé relata que o seu avô João contava que os padres tomavam conta da escritura da terra, que tal escritura era em letras de ouro e que a terra pertencia aos santos (da igreja). Como a terra era dos santos, os negros não se preocuparam em fazer o documento, em ter escritura nem em legalizar a posse da terra e a tal escritura foi levada pelos padres e sumiu. “Ai chegaram os fazendeiros que começam a tomar as terras, expulsando os negros. Eles soltavam o gado, para engordar com o que os negros plantavam e vendo que mesmo assim os negros não saíam da terra, passaram a atear fogo nos paióis de colheita”. Relata Sueli. Assim a comunidade que foi sendo empurrada, acabou ficando num pequeno pedaço que vive até hoje. Muitos da família Tomé foram saindo e estão para as periferias das cidades de Laranjeiras, Cantagalo, Guarapuava e em outros municípios. Atualmente a comunidade que vivia da agricultura não tem terra para plantar.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA CAVERNOSO 1
A Comunidade está centenariamente na terra. Sebastião Rodrigues, 73 anos, pessoa mais idosa e líder da comunidade relata que seus ancestrais trabalharam na condição de escravizados e que o seu bisavô quando chegou à comunidade tinha a orelha rasgada, quando escravizado, certa vez lhe pregaram a orelha na parede e quando o dono da fazenda o chamou teve que atender, arrancando a orelha do prego. A história da comunidade era contada pelos seus avós e por seus pais que também viveram nestas terras onde ele nasceu e criou também seus filhos. Atualmente mulheres, homens e crianças plantam milho, feijão, mandioca, batata doce e abóbora. Festeja o padroeiro que é São Roque e venera Santo Expedito e Nossa Senhora Aparecida. Na comunidade a cultura dos rezadores, benzedeiras e curandeiros é preservada. O artesanato é feito de palha de milho, criciúma, taboa e taquara. A comunidade declara ser católica e evangélica.
GUARAPUAVA
(RESERVA DO IGUAÇÚ – PINHÃO)
Comarca de Guarapuava
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA INVERNADA PAIOL DE TELHA
Esta é uma comunidade em situação bastante complexa e especial. Sua luta pelo retorno às terras de origem é lendária. A parcela melhor localizada do quilombo, está no assentamento efetuado pelo INCRA próximo à Vila Socorro no distrito de Entre Rios, município de Guarapuava distante 35 quilomtros de sua sede, é conhecida pelo nome de Paiol de Telha. Originalmente a comunidade negra habitava suas terras da Invernada do Paiol de Telha em parte da Fazenda Capão Grande área também conhecida por Fundão, deixada para os escravisados e alguns libertos por testamento da fazendeira Dona Balbina Francisca de Siqueira, em 1860
Expropriados – até pelo sobrinho da falecida, no inventário - os negros lutaram incessantemente até que em 1960 (exatos cem anos) os remanescentes foram totalmente expulsos por grileiros, jagunços e pistoleiros com aval de autoridades da época.. O Fundão da Fazenda Capão Grande, pertencia ao município de Guarapuava mas por divisão do território municipal, pertence hoje à Reserva do Iguaçú, onde parcela importante da comunidade está acampada em barracas de lona a beira da estrada em frente as terras ancestrais, como baluartes da luta, comandados por “seu” Domingos, que ao lado de sua mulher “Nália” (.ambos com mais de setenta anos) suas filhas, netos e demais quilombolas mantém a chama da resistência acesa.. O resto da comunidade, mais de trezentas famílias, está espalhada nas periferias das cidades de Guarapuava e de Pinhão, com parcelas significativas em situação de extrema necessidade, vivendo como catadores de papeis e/ou em outras funções semelhantes.
Três Associações os representam na luta para reaver suas terras que estão hoje na posse de uma grande cooperativa agrícola. Na periferia de Guarapuava, a catadora de papel, Francisca Soares Ribas de 105 anos, conta que “fazia queijo e vendia, fazia farinha de mandioca, farinha de milho, plantava mandioca, batata doce, batatinha, erva mate, socava erva, criava porco, gado, carneiro, cavalo”. Hoje ela afirma que: “não tenho mais nada, nem sabia que era rica e fiquei pobre”. Diz ainda que “meu único desejo é voltar para o Fundão”, fazenda herdada pelos seus ancestrais. Sebastião de Oliveira que nasceu em 1920 e foi professor alfabetizador na década de 1950 (Guarapuava) no Fundão é referência para a comunidade. A padroeira é Nossa Senhora das Graças. Os moradores comemoram o dia Consciência Negra e fazem festa junina. O grupo de dança “Kundun Balé” de jovens quilombolas é a produção artística atual.
PALMAS
Comarca de Palmas
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA Adelaide Maria da TRINDADE Batista
São Sebastião do Rocio, hoje Adelaide Maria da Trindade Batista, o quilombo leva o nome da matriarca fundadora e sua primeira líder em uma homenagem de seus descendentes; o antigo nome perdera sua razão de ser quando se estendeu para o bairro que a prefeitura, construiu em suas terras, quando a cidade chegou até elas.. De acordo com Maria Arlete Ferreira da Silva e Auri Silveira dos Santos, descendentes dos primeiros negros que habitaram a região, a comunidade é formada pelas famílias Batista, Ferreira, Lima, Silva, Silveira e Santos. A comunidade acredita que uma parte dos negros que vivem nesse quilombo veio com a bandeira de José Ferreira dos Santos e outra, com a bandeira de Pedro Dias Cortes, para povoamento dos campos de Palmas. Adelaide Maria da Trindade Batista chegou do Rio Grande do Sul com as primeiras expedições que chegaram se instalando na região onde hoje é o município de Palmas entre 1836 e 1839, trazendo consigo seus símbolos e os santos que são venerados até a atualidade.
Entre os ancestrais dos membros da comunidade estão Benedita, (tia Dita), que morreu queimada e Salomé, que foi escravizada e tinha as marcas no corpo: a orelha rasgada, a mão queimada, pois era obrigada a levar a brasa, na mão para que o seu senhor acender o cigarro de palha, e muitas das vezes, era obrigada a segurar a brasa até que ele fizesse o cigarro para depois acendê-lo. Maria Arlete conta que seu avô José Ferreira lutou na Guerra do Paraguai e destaca: “O meu padrasto, quando a gente tinha as “surpresas”, ele carregava a espingarda que foi do meu avô José Ferreira para dar as salvas de tiro na nossa casa”.
Adelaide Maria da Trindade Batista, a matriarca, doou o terreno para a construção da igrejinha católica, hoje oficialmente reconhecida como Capela pela Diocese. Quando a matriarca faleceu, assumiram respectivamente a liderança do bairro (Quilombo) e da igrejinha, Maria Joana Batista da Silva e Maria Adelaide Ferreira da Silva, nora da primeira Adelaide e assim vem acontecendo a sucessão na comunidade. Atualmente a liderança do Quilombo (bairro) e da Capela é Maria Arlete Ferreira da Silva. Esta líder está sempre contando a história da luta dos ancestrais para seus filhos e netos, para que não se perca o conhecimento acumulado de geração em geração, pois como ela diz: “Muda-se a forma de viver, mas não se pode perder a tradição”.Cultura antiga: artesanato, a catira, carnaval, boi de mamão, jogo de escopa e na quaresma, a Matraca para a Recomenda das Almas, e a festa de São Sebastião do Rocio. Eram feitos três bailes: na sexta-feira era dos brancos, no sábado só dos pretos e no domingo todos dançavam. “Os bailes, não acontecem mais, pois hoje vieram para o bairro de São Sebastião do Rocio, outras famílias de várias etnias, que não conhecem e não valorizam a tradição negra”. - diz Maria Arlete. Quanto às terras, ela fala: “Atualmente, a realidade é que muitos negros se foram embora, pois não tinham como sobreviver depois que o prefeito tomou as terras do quilombo e as vendeu para famílias de descendentes de imigrantes, pobres eles também, por um preço simbólico, para não dizer doação.
Sem ter onde plantar e sem infra-estrutura urbana, empregos, a solução para muitos foi ir embora em busca de melhores condições de vida para família”. A comunidade festeja São Sebastião no dia 20 de janeiro, conserva a cultura da dança e da música, planta mandioca, feijão, milho, abóbora e batata.
CRQ CASTORINA MARIA DA CONCEIÇÃO – (FORTUNATO)
Esta comunidade, que já foi chamada de Fortunato, recebeu o nome atual em homenagem à matriarca sua fundadora Castorina Maria da Conceição. “Seu” Valdomiro Fortunato Nunes, 70 anos, neto de Castorina Maria, relata que ela e sua irmã, Maria Adelaide da Trindade Batista, que fundou a comunidade do Rocio e que hoje tem o seu nome, chegaram escravizadas nas primeiras expedições para povoamento de Palmas, 1836 a 1839. Contam que os negros que integraram as Bandeiras fizeram parte desse quilombo. Valdomiro diz que os sobrenomes das famílias do bairro são Nunes e Batista, pois Fortunato era um apelido que mais tarde foi assumido como sobrenome. Tanto Valdomiro da Comunidade Castorina Maria da Conceição (Fortunato) como Maria Arlete da Comunidade de Adelaide Maria da Trindade Batista (Rocio), contam o que ouviram dos mais velhos que o Rio Caldeira servia de divisa, de limites: “do lado de cá”, conta, “ficaram os negros e do lado de lá, os fazendeiros brancos”.
Valdomiro, diz que alcançou o tempo em que os negros tocavam as tropas de porcos dos fazendeiros locais para as fazendas de União da Vitória. A viagem durava uma semana. Paravam, alimentavam os animais, dormiam em ronda e na manhã seguinte continuavam a viagem: Levavam um cargueiro de alimentação (um cavalo com as bruacas) com alimento para os homens e os animais – as bruacas eram feitas por eles mesmos em couro cru. “Nois saía dali – aponta - pra diante do Chopim, de carrocinha, puxando alimento; um tio meu foi daqui pro Norte do Paraná levando uma tropa de porco de a pé”.
Ermínio Nunes Fortunato, 50 anos, diz que ainda alcançou tropeada de vaca dos negros. “Aqui era tudo aberto, não tinha cerca, era bonito de se ver. A gente era peãozinho e quando escutava os gritos dos vaqueiros, corria pra dentro de casa, às vezes vinha, vaca, boi brabo e aí ficava olhando da janela”. Ermínio relata que os fazendeiros tinham dinheiro e fechavam as terras das quais se apossavam com taipas de pedra feitas pelos negros, enquanto estes que não tinham dinheiro deixavam tudo aberto, pois cada um sabia qual era o seu pedaço. “Esse direito não foi respeitado pelos que aqui chegaram depois, e principalmente pela prefeitura municipal”, conclui. Plantam milho, feijão e abóbora para subsistência e criam animais. A padroeira da comunidade é Nossa Senhora da Luz. Festa: Romaria de São Gonçalo. Destacam ainda, na área cultural a dança e a música do Grupo de Dança Afro – “Maria Morena”.
CNT COMUNIDADE NEGRAS TRADICIONAIS TOBIAS FERREIRA – (LAGOÃO)
Da mesma forma como as duas outras comunidades de Palmas, a Comunidade Negra Tradicional Tobias Ferreira, conhecida anteriormente como Lagoão, teve o seu nome mudado em homenagem ao patriarca Tobias Ferreira. Foi formada pelos negros escravizados da fazenda Pitanga. Dona Juvina Batista Ferreira, 78 anos, casada com Mário Ferreira, filho de Tobias relata que seu sogro, chegara à região nas primeiras expedições de 1836 e morreu com mais de cem anos. Na lembrança da comunidade estão alguns nomes de pessoas que foram escravizadas na fazenda Pitanga: Ernesto, Benedito, Chica, Braulina das Neves e Efigênio, entre outros. Auri de Jesus Ferreira, filho de Dona Jovina conheceu negros com mais de cem anos que haviam sido escravizados e que contavam dos sofrimentos que passaram nas fazendas, desde orelhas pregadas (uma história recorrente nos Campos Gerais) a surras e outros castigos. Já livres, depois da venda da fazenda Pitanga para novos proprietários, houve muita violência por parte destes contra os negros e muitos, sem apoio das autoridades policiais, saíram de suas terras por não suportarem as perseguições e pressões para que abandonassem o local onde viveram quase dois séculos. Os que resistiram e estão na comunidade até hoje têm orgulho de sua história de resistência e de luta. Expressões culturais: a dança de São Gonçalo que sempre acontece sem dia marcado no calendário permaneceu no decorrer dos anos; a capoeira também está presente nas novas gerações dos descendentes de Tobias Ferreira. Outro descendente, Juarez de Jesus Ferreira, relata que umbanda, candomblé e catolicismo fazem parte da espiritualidade da comunidade que agrega também os evangélicos. “Essa espiritualidade muitas das vezes está intercalada nas atividades culturais. Nossa preocupação é preservar a cultura e não deixar cair, não deixar sumir nossa história, mas fazer a nova geração continuar as danças e o uso de remédios de ervas que as vezes demoram até 48 horas para fazer efeito, mas funcionam”, diz Juarez.
TURVO
Comarca de Guarapuava
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA CAMPINA DOS MORENOS
A comunidade, que anteriormente era chamada de Campina dos Pretos, está localizada a 22 quilômetros da sede do município de Turvo, no limite entre este município e o de Guarapuava. a comunidade originou-se ao ser o pouso final para os negros escravizdos em fuga das fazendas da região. Membros da comunidade relatam que por volta de 1850 os primeiros fugitivos se instalaram nesse local de difícil acesso e já por volta de 1870, existiam perto de cem famílias na comunidade. Atualmente dez famílias, com 66 remanescentes quilombolas, descendentes dos que conseguiram resistir às violências cometidas e a progressiva perda das terras com a diminuição das possibilidades de sobrevivência, mantêm os costumes antigos, inclusive o uso coletivo da terra para a agricultura, moradia e criação de suínos. Atualmente os quilombolas para sobreviver necessitam tanto da agricultura de subsistência quanto do trabalho braçal nas fazendas da região. As roças de feijão, milho, mandioca e batata são familiares e o trabalho é feito por mulheres e por homens.
IVAÍ
Comarca de Imbituva
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA SÃO ROQUE
Este município foi desmembrado do município de Ipiranga. Há indicativos das, hoje, comunidades remontarem ao século XVIII. “Seu Milton”, Milton Ferreira Lima, diz que as famílias negras são os Lima, Ferreira, Lourenço e Marçal. Ele é filho do Sr. Brasílio Ferreira de Lima e de Dona Zulmira Ferreira de Lima, nascendo em 1929 e vivendo na comunidade até hoje. Relata que quando sua avó, que foi escravizada, chegou do Estado da Bahia, o “dono” das terras era o negro Paulo Ferreira que já tinha 110 anos. Ela casou com um dos filhos desse negro Paulo, que morava no Rio do Meio, Aí “Seu” Milton conta que São Roque e Rio do Meio era uma única comunidade: “Foi com a chegada dos imigrantes europeus, que o governo autorizava ir ocupando as terras, que se foram separando sem respeito os que ali já habitavam e possuíam as terras. E os negros perderam as suas terras e viram dividida a comunidade em duas: São Roque e Rio do Meio”.As referências geográficas são o rio São João, a Serra Pedra Branca e a Serra São João. A principal atividade da comunidade é rural com todos os membros da família. Trabalham em outras terras por arrendamento ou porcentagem da colheita no cultivo de milho, feijão, arroz, banana, batata e abóbora. Vendem feijão e milho para comerciantes ou para os próprios donos da terra. Criam cabra, porco, galinha e ganso para consumo e a pesca é individual, em rio, com anzol. Produzem artesanato em criciúma, taquara e palha de milho: cestos, balaios, chapéus, esteiras e baixeiros. São Roque e São Sebastião são os padroeiros da comunidade, que se declara católica e evangélica.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA RIO DO MEIO
A comunidade do Rio do Meio era uma mesma comunidade com São Roque e que foi cortada ao meio por ocasião da ocupação pelos imigrantes europeus das terras quilombolas. ”O que tinham que tomar já tomaram tudo”, diz Maria Cecília Lourenço de Andrade, de setenta anos de idade, a falar sobre conflitos de terra. As referências geográficas são o Rio do Meio e o Rio das Índias. Os quilombolas dessa comunidade vivem da agricultura, em culturas de subsistência ou do cultivo do fumo. Sua origem, segundo os relatos dos mais idosos, remonta ao final do século XVIII e estão na rota do tropeirismo.
GUAÍRA
Comarca de Guaíra
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA MANOEL CIRIACO DOS SANTOS
A comunidade, localizada no município de Guaíra tem como cidade mais próxima, a 20 quilômetros de distância, Terra Roxa. Seus membros fixam-se no Paraná após fugas sucessivas de condições análogas à escravidão e tem seu nome em homenagem ao patriarca que os guiou até aqui.
José Maria Gonçalves, filho de Manoel Ciriaco dos Santos conta que a história da comunidade começa com José João Paulo e sua esposa Maria Joana, escravizados no Estado das Minas Gerais. Trabalhavam no garimpo e tiveram vários filhos, entre eles, Joaquim Paulo dos Santos que casou com Maria Izidora dos Santos, ambos alforriados e que também como seus pais trabalharam para os senhores do garimpo e nas lavouras de cana e de café, sem reconhecimento dos trabalhos. Desse casamento nasceu Manoel Ciriaco dos Santos que depois de muito trabalhar para fazendeiros em Minas Gerais, foi para São Paulo em busca de real liberdade e finalmente, para o Estado do Paraná, fixando-se, já em meados do século XX, com os seus no Patrimônio do Maracajú dos Gaúchos, no município de Guaíra. A referência geográfica da comunidade é o rio Barigui e os meios de transporte mais utilizados na atualidade são o cavalo e a carroça. O cultivo maior na lavoura é de mandioca que é vendida para um comerciante da cidade. O trabalho é feito por homens e por mulheres. Nos quintais são plantadas as verduras. Os quilombolas também criam animais.As práticas religiosas na comunidade são variadas: há adeptos e seguidores do candomblé e da umbanda, católicos e evangélicos. O santo padroeiro é São João e em sua festa um grupo dança a quadrilha. Outros santos venerados são Nossa Senhora Aparecida, Santo Antonio, São Pedro e São Benedito. Tradição das mais antigas trazida junto com eles, a comunidade continua fazendo a Folia de Reis e o batuque.
SÃO MIGUEL DO IGUAÇU
Comarca de São Miguel do Iguaçú
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA APEPÚ
Situada no município de São Miguel do Iguaçú, tem como cidade mais próxima, distante 20 quilômetros, Santa Teresinha de Itaipu. A comunidade escolheu o nome de Apepú em referência a um tipo de laranja, abundante na região. Dona Aurora Correia, filha de Djanira Rafaela e de Florentino Correia, conta que a História da Comunidade está no livro da história de Foz do Iguaçu. Seu pai, Florentino Correia, nascido em 1901, veio ainda em criança, antes de 1905, para Apepú com seus pais. O avô de Dona Aurora iria trabalhar na instalação da linha telegráfica que ia até Foz do Iguaçu. Quando terminaram de instalar a linha este ganhou oitenta alqueires de terras onde hoje é São Miguel do Iguaçú. Dessas terras restaram apenas vinte alqueires, pois no decorrer do avanço da fronteira agrícola no sudoeste foram-lhe tomando/”comprando” pedaço por pedaço. Outros percalços aconteceram durante a revolução de 1924 quando tanto os revolucionários quanto tropas do governo tomavam o que queriam dos moradores, e mesmo as forças do governo dando recibo do que levavam para pagar depois da revolução, nunca pagaram. A locomoção até a cidade mais próxima é a cavalo ou a pé. O cultivo mais importante para a alimentação é o milho. Para venda o cultivo é de soja cujo produto é vendido para uma cooperativa. A principal dança para a comunidade é o fandango.
CURIÚVA
Comarca de Curiuva
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA ÁGUA MORNA
Localizados a 12 quilômetros da sede do município estão os negros que foram escravizados na fazenda Água Morna e que receberam parte desta como herança. As famílias da comunidade descendem daqueles escravizados que ficaram com as terras e dos negros que foram chegando em busca de liberdade e de terra para plantar. A história da comunidade está viva na memória dos quilombolas. Djair Alves de Lima relata que seus bisavós vieram de muito longe. Ela sempre se perguntava de onde teriam vindo e sua sogra dizia que vieram de Castro liderados pelo bisavô Maurício, por João Santana de Oliveira e sua esposa Maria da Luz, pessoas mais velhas e que foram escravizadas. Relata ainda que a avó Benedita dizia que todas aquelas mulheres eram negras da Costa. Na lembrança da comunidade estão os relatos dos antepassados sobre a guerra do Paraguai: “A mãe velha Benedita contava que a “mãe Romana” que era mãe do vovô Maurício “ajudou a vencer” a Guerra do Paraguai” Dizem, “foi um tempo doloroso; as mães escondiam os filhos em tocas, cavernas e em casa de pedra levando alimento escondido, aos pouquinhos.”. “A “mãe Romana” lutou na Guerra com navalha na mão e no vão dos dedos dos pés” (em golpes de capoeira?), diz Djair Alves de Lima As roças são comunitárias onde cultivam feijão, milho e arroz. A pesca em rio é feita com anzol e os moradores afirmam que atualmente existe pouco peixe. Padroeiros: Nossa Senhora da Conceição e São Roque. Festas tradicionais: Romaria de São Gonçalo, Romaria de São João, Romaria de São Roque e Recomenda das Almas.
CRQ COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA GUAJUVIRA
Os habitantes da comunidade que fica a seis quilômetros da sede do município de Curiúva têm na memória a história da terra na qual habitam, terra herdada da fazenda Guajuvira. Laura Rodrigues Ferreira, moradora, relata que a sua avó, mãe de seu pai Tomé Rodrigues Ferreira, era chamada de Dona Rita Francisca, dos Impossíveis. Rita Francisca, que como sua mãe foi escravizada na referida fazenda, recebeu esse nome pois sua mãe era fiel devota de Santa Rita dos Impossíveis. Ocorre que o fazendeiro se apaixonou pela jovem menina quando a mesma estava mais ou menos com treze anos, casou-se com ela, vindo a morrer pouco mais tarde. Após morte do marido Rita Francisca libertou os negros escravizados acolhendo os que vinham da região. As famílias negras da comunidade são descendentes de Rita Francisca que adotando a devoção materna, realizava festas em homenagem a Santa Rita dos Impossíveis todos os anos. Em tributo à matriarca, o grupo construiu uma capela para Santa Rita mas muitos negros do local consideram a própria Rita Francisca como a santa padroeira da comunidade. Atualmente criam animais para consumo e cultivam milho, feijão, arroz, mandioca, abóbora, amendoim e batata -doce.